Como promover o reúso de águas residuais
A maneira de usar a água é cada vez mais importante para a economia e interesses ecológicos
Como o reúso de águas residuais pode impactar positivamente na vida de todos. A antiga forma de pensar, onde imaginava-se que a água potável era um recurso que nunca acabaria já não é mais uma realidade. O mau uso deste recurso natural vital, tornou o assunto uma pauta importante nos principais órgãos ambientais mundiais. Segundo estes órgãos, um terço da população do mundo não possui acesso a água potável.
Veja alguns artigos e matérias sobre o assunto:
- Um terço da população mundial não tem acesso a água tratada, diz ONU – Matéria do site globo.com
- A ONU e a água – Artigo do site nacoesunidas.org
- Dia Mundial da Água – Artigo do site ipt.br do Institudo de Pesquisas Tecnológicas
Muitas alternativas já são utilizadas para estancar o desperdício, poupando não somente recursos econômicos mas principalmente recursos naturais. A sustentabilidade nunca foi tão requisitada quando o assunto é água potável.
Há diversas formas de se reaproveitar a água de forma a diminuir o consumo de água potável em condomínios, edifícios, shoppings entre outros prédios. O reúso de águas residuais nestes locais já é uma realidade e vem sendo aplicado principalmente em novos projetos.
Os princípios de sustentabilidade podem ser aplicados a diversas partes de um edifício, como o manejo das suas águas. Alguns dos componentes principais desse trabalho estão ligados ao desenvolvimento, seleção e utilização de tecnologias adequadas ao tratamento e aproveitamento das águas de forma local em um edifício, além da avaliação das demandas e ofertas possíveis para determinada atividade desempenhada na edificação e a indicação dos usos viáveis para essas águas.
Além da substituição de fontes, práticas de reuso e tratamento local de efluentes, a sustentabilidade predial também pode ser trabalhada de forma global em uma elaboração de planos de combate às perdas de água, por setorização das instalações hidráulicas ou pelo combate aos vazamentos.
A economia de água também pode ser conseguida com a instalação de equipamentos moderadores de gastos nos pontos de uso. Eles permitem que o usuário desenvolva a atividade necessária, mas com menor volume de água.
Onde pode ser usada a água residual proveniente da chuva:
- Uso em descargas de vasos sanitários
- Irrigação de gramados e jardins
- Lavagem de veículos
- Limpeza de pisos e pavimentos
- Espelhos d’água
- Torres de resfriamento na indústria
- Fontes e chafarizes
Benefícios
A vantagem econômica do aproveitamento de água de chuva se baseia na menor necessidade de fornecimento de água pelas companhias de saneamento, tendo como conseqüência a redução de despesas com água potável e esgoto para os usuários.
A economia é sensível em todas as instâncias: residencias unifamiliares, edifícios residenciais e comerciais, e principalmente indústrias, que geralmente possuem uma grande área de captação e diversos usos não potáveis para a água.
O benefício para o meio-ambiente, por sua vez, é incalculável, reduzindo a demanda por água dos mananciais já sobrecarregados, e preservando esse bem de valor inestimável.
Reúso, adubo, energia… pesquisador do IPT aponta tendências para aproveitamento de águas residuais no Brasil
No ano de 2017, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu para o Dia Mundial da Água, o tema ‘Águas Residuais’. Conceito que diz respeito basicamente a qualquer tipo de esgoto, seja ele de origem doméstica, comercial ou industrial. A questão é complexa e heterogênea: enquanto apenas cerca de 68% da população mundial conta com instalações sanitárias adequadas, segundo dados da ONU, países como Singapura praticam o tratamento do esgoto para transformação em água potável como uma realidade de seus habitantes.
“Tecnicamente falando, atualmente dispomos de tecnologias para transformar a qualidade da água de toda e qualquer forma”, começa Luciano Zanella, pesquisador do Laboratório de Instalações Prediais e Saneamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
“O problema é que, quanto mais radical a mudança, mais cara ela é, não só em termos de instalação, mas de operação e manutenção. Para garantir a transformação de uma água residual em água potável, por exemplo, é necessário manter três ou quatro sistemas em operação, para aumentar a segurança e reduzir a probabilidade de falhas”, explica.
Viabilidade financeira
A viabilidade financeira é, para Zanella, um dos pontos-chaves para a questão do reúso das águas e aproveitamento de subprodutos resultantes do tratamento de esgoto no Brasil. Segundo o pesquisador, o uso de recursos do meio ambiente pode ser poupado por meio de alternativas tecnológicas que mantém as águas disponíveis para uso por mais tempo, como os sistema de reúso, e já são realidade por serem economicamente vantajosas para os envolvidos.
“As águas residuais, de acordo com a legislação, precisam receber um tratamento adequado antes de serem lançadas novamente no meio ambiente. É lei. No caso do reúso, essas águas receberiam tratamentos além do convencional, dependendo da finalidade para a qual serão utilizadas”, detalha o pesquisador.
“Hoje, é vantajoso para muitas indústrias fazer o próprio tratamento da água para utilizá-la para determinadas atividades como lavagens, por exemplo, ou mesmo comprá-la de empresas com estações de reúso. Além de ganharem em marketing ambiental, é mais barato do que comprar o mesmo volume de água potável”.
Na indústria, explica Zanella, o reúso de águas residuais é variado e depende do tipo, porte e setor ao qual o empreendimento pertence. Já no ambiente comercial e doméstico, algumas alternativas para o reúso de águas residuais estão se popularizando nas grandes cidades. O uso de esgotos tratados em concomitância com águas de chuva em descargas sanitárias é uma das medidas financeiramente rentáveis para shoppings centers; em alguns condomínios residenciais, parte do esgoto (geralmente aquele intitulado de águas cinza) é tratado e utilizado para o mesmo fim.
Inovação
Contudo, o ponto alto do reúso para o pesquisador está começando a dar seus primeiros passos no País agora. “A tendência dos últimos anos é não encarar a água residual como algo a ser tratado e lançado de volta no meio ambiente, apenas. No tratamento desse tipo de efluente, é possível encontrar água, nutrientes, matéria orgânica e até mesmo gases para a geração de energia. O esgoto é uma fonte de subprodutos, cujo aproveitamento depende da viabilização financeira do tipo tratamento necessário para obtê-los”.
Zanella cita como exemplos:
A presença de nutrientes como nitrogênio e fósforo nas águas de esgoto, fundamentais na agricultura e cuja importação é comum no Brasil. “Compramos substâncias que temos à mão e jogamos fora. Hoje, aqui mesmo no IPT, existem pesquisas de recuperação de compostos de nitrogênio e fósforo a partir da urina. Fora do País, muitos lugares já contam com a extração desses nutrientes durante o tratamento do esgoto, destinados à irrigação de culturas na agricultura”, conta o pesquisador.
Em alguns locais do mundo, segundo ele, também já existem trabalhos de sintetização de compostos de nitrogênio a partir do lodo gerado nas estações de tratamento convencionais. Além disso, tanto os processos de tratamento anaeróbio de esgotos, quanto os processos de tratamento do lodo gerado pelo tratamento aeróbio das águas residuais, resultam na produção de metano, gás que pode servir como combustível para a produção de energia elétrica.
“Isso é uma evolução no reúso de águas residuais: o aproveitamento de insumos que estariam sendo despejados no meio ambiente. Mas é importante dizer que, caso a caso, é preciso estudar a viabilidade técnica e econômica de manutenção e operação para implementação de cada tratamento específico, para que essas alternativas sejam de fato eficazes”, finaliza.
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